"O irônico é uma vampira que sugou o sangue de seu amante e o abanou com frescor, o embalou até dormir e o atormenta com sonhos turbulentos" (Soren Kierkegaard. In: The Concept of Irony).

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo!

É do nascedouro da vida a grandeza.

É da sua natureza a fartura
a ploriferação
os cromossomiais encontros,
os brotos os processos caules,
os processos sementes
os processos troncos,
os processos flores,
são suas mais finas dores
As conseqüências cachos,
as conseqüências leite,
as conseqüências folhas
as conseqüências frutos,
são suas cores mais belas


É da substância do átomo
ser partível produtivo ativo e gerador
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza


É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la,
cheio que é o seu princípio


Todo vazio é grávido desse benevolente risco
todo presente é guarnecido
do estado potencial de futuro


Peço ao ano-novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra
da vaidade "minha" desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar
nos amesquinha.


A vida não tem ensaio
mas tem novas chances


Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores

Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!"


(Poema "Libação", de Elisa Lucinda)


P.S.: Um amigo me enviou este poema de Lucinda, não resistir e compartilho com vcs!

Feliz Ano Novo!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Poeminha do contra


Tirei esta foto da foto, simulacro do simulacro, quando fui à Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. Me encantei com o sorriso do poeta e logo, abaixo, este poeminha, uma das minhas orações diárias, que me acompanha desde Feira.
E olha que eu venho passarinhando a muito tempo, mas de vez em quando baixo as armas, e acredito que as pessoas são boas ou não querem atravancar a não ser o seu próprio caminho. Mas, de quando em vez, me deparo com alguns atravancadores de caminhos alheios, me chateio, caio na real (isso aqui não é novela, menina!) e, logo depois, penso e rezo a oração que Quintana fez para mim.  
Sim, ele fez para mim, para vc e para todos nós. Acho que para entendermos que tantos os atravancadores quanto os problemas que eles nos trazem irão sempre passar, enquanto eu continuarei e, vc se quiser, a passarinhar!!
Viva Quintana!!!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Há saudades!

Há saudades!

De quando era criança.
Das galinhas de minha bisa me “pinicando” os pés e a canela.
De minha vó me acordando às 5hs da manhã para tomar banho e ir para a escola.
De minha mãe com seu abraço aconchegante e seu choro de cachoeira.
De um pai.
De meus irmãos e irmãs, todos juntos, numa mesa grande colonial esperando o cuscuz de bisa.
De minhas sobrinhas me sufocando de saudades e carinho.
De meu sobrinho, de ser tua tia.

Há saudades.

De Andar...aí.
Do Bar d’Amina.
De Igatu.
Do Pati.
Dos banhos de rio.
Das noites que ficávamos até a madrugada na ponte tomando vinho e desafinando.

Há saudades.

Dos meus cabelos encaracolados, vermelhos.
De jogar handebol.
Da comida de Tia Verinha e de sua casa aberta a todos.
Das amizades que não resistiram.
Das amizades que resistiram.

Há saudades.

De ler sem fichar e resenhar.
De dançar até o amanhecer.
De beber até cair.
De não me preocupar tanto.
De ser mais leve.
De confiar sem suspeição.

Há tantas saudades!