"O irônico é uma vampira que sugou o sangue de seu amante e o abanou com frescor, o embalou até dormir e o atormenta com sonhos turbulentos" (Soren Kierkegaard. In: The Concept of Irony).

domingo, 12 de agosto de 2012

Bolas de sabão


As bolas de sabão que essa criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Alberto Caeiro

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O que posso ser agora!?

Há mundos, lembranças, dores e alegrias
Que surgem, insistentemente, sem aviso prévio.

Habitam-nos
Como uma obsessiva obsessão
Invadem nossos sonhos, pesadelos,
E planos.

Eu, já cansada de lutar, resolvi fazer um inútil acordo:
Um dia por semana seria apenas eu e o agora!
E eles (as), é claro, não me ouviram
Continuaram a preencher-me do que já foi.

Hoje, já cansada de lutar,
Vivo a repensar cada momento
Cada ato
Da minha ordinária existência.

Vivo tentando colocar tudo no papel
Na tela do computador
Nos meus rabiscos ininteligíveis
Expulsando-os de mim.

Vão habitar outro ser, digo.
A casa está lotada, grito.
E eles, ali, mexendo nos meus livros
Ocupando meus espaços
Lendo-me incansavelmente.

Não é possível expulsar o que já fomos e vivemos de nós, me disse um deles.
Olhei-o nos olhos e gentilmente abri a porta
- Por favor, quero que saia. Não o estou expulsando (acho realmente impossível), apenas quero ser o que posso ser agora!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quando a mãe da gente aparece...

Minha mãe veio, como notícia boa, nos visitar. Mais de 6h de viagem de Mucugê até aqui, mas veio. Chegou na tarde de terça, ficou toda a quarta e no terceiro dia partiu deixando o meu coração saudoso e choroso.

Mãe é assim: pode ficar poucos dias, mas a sentimos como se nunca tivéssemos saído de perto da barra de sua saia.

Neste pouco tempo,  apenas aproveitei a sua presença para assumir o meu papel de filha... e lhe contar algumas dores. E ela em sua sabedoria materna me disse: Perdoe, minha filha! Vc precisar seguir em frente sem essas mágoas em seu coração!

Hoje, um dia depois de ela voltar para casa, a saudade ainda é forte,
mas a esperança de que posso andar com o coração mais leve
tomou conta de mim!

Te amo, mãe!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo!

É do nascedouro da vida a grandeza.

É da sua natureza a fartura
a ploriferação
os cromossomiais encontros,
os brotos os processos caules,
os processos sementes
os processos troncos,
os processos flores,
são suas mais finas dores
As conseqüências cachos,
as conseqüências leite,
as conseqüências folhas
as conseqüências frutos,
são suas cores mais belas


É da substância do átomo
ser partível produtivo ativo e gerador
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza


É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la,
cheio que é o seu princípio


Todo vazio é grávido desse benevolente risco
todo presente é guarnecido
do estado potencial de futuro


Peço ao ano-novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra
da vaidade "minha" desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar
nos amesquinha.


A vida não tem ensaio
mas tem novas chances


Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores

Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!"


(Poema "Libação", de Elisa Lucinda)


P.S.: Um amigo me enviou este poema de Lucinda, não resistir e compartilho com vcs!

Feliz Ano Novo!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Poeminha do contra


Tirei esta foto da foto, simulacro do simulacro, quando fui à Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. Me encantei com o sorriso do poeta e logo, abaixo, este poeminha, uma das minhas orações diárias, que me acompanha desde Feira.
E olha que eu venho passarinhando a muito tempo, mas de vez em quando baixo as armas, e acredito que as pessoas são boas ou não querem atravancar a não ser o seu próprio caminho. Mas, de quando em vez, me deparo com alguns atravancadores de caminhos alheios, me chateio, caio na real (isso aqui não é novela, menina!) e, logo depois, penso e rezo a oração que Quintana fez para mim.  
Sim, ele fez para mim, para vc e para todos nós. Acho que para entendermos que tantos os atravancadores quanto os problemas que eles nos trazem irão sempre passar, enquanto eu continuarei e, vc se quiser, a passarinhar!!
Viva Quintana!!!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Há saudades!

Há saudades!

De quando era criança.
Das galinhas de minha bisa me “pinicando” os pés e a canela.
De minha vó me acordando às 5hs da manhã para tomar banho e ir para a escola.
De minha mãe com seu abraço aconchegante e seu choro de cachoeira.
De um pai.
De meus irmãos e irmãs, todos juntos, numa mesa grande colonial esperando o cuscuz de bisa.
De minhas sobrinhas me sufocando de saudades e carinho.
De meu sobrinho, de ser tua tia.

Há saudades.

De Andar...aí.
Do Bar d’Amina.
De Igatu.
Do Pati.
Dos banhos de rio.
Das noites que ficávamos até a madrugada na ponte tomando vinho e desafinando.

Há saudades.

Dos meus cabelos encaracolados, vermelhos.
De jogar handebol.
Da comida de Tia Verinha e de sua casa aberta a todos.
Das amizades que não resistiram.
Das amizades que resistiram.

Há saudades.

De ler sem fichar e resenhar.
De dançar até o amanhecer.
De beber até cair.
De não me preocupar tanto.
De ser mais leve.
De confiar sem suspeição.

Há tantas saudades!


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sobre a solidão


Eu, tu, a solidão e a morte



EU - Acompanhados ou não. A solidão nos habita. Está SEMPRE conosco.

TU - A morte também.

EU - Ufa! Que bom: pensei que erámos só eu a solidão!

TU - Já não morremos sozinhos. Vejo-as ao meu lado.

EU - Elas te espreitam no silêncio?

TU - Não. Dão gargalhadas! Ou: não dão gargalhadas.

EU - Vês Sísifo subindo o monte. Olhe ao seu lado.

TU - Consegue vê-las?

EU - Olhe direito. Ali. Estão lá.

TU - Que bom. Ele não está tão só.

EU - Vês Nair fazendo um aborto, a perfuração, o sangue,

TU - Glorinha que se vai e se esvai...

EU - Elas estão lá,

TU - dando-lhe o beijo que tanto queria na hora do retorno.


                                                                 

(Des)acompanhada


Cena 1:

Um show de MPB. É daquela banda que adoro. Os ingressos já estão sendo vendidos... Esse final de semana não, querida. Combinamos de ir à casa dos meus tios. Eu te avisei. Tudo bem, tinha me esquecido. Bom, daqui a quinze dias, haverá um musical naquele teatro do centro da cidade. O grupo é ótimo. Pensei em te convidar. Poxa, amor, você sabe que não curto teatro. A gente podia ir a um barzinho, tomar umas cervejas. Conversamos um pouco e depois seguimos para a minha casa. Que tal?

Cena 2:

Amiga, quanto tempo! Como tem andado? Morro de saudades da época da faculdade. Nos matávamos de estudar, mas também nos divertíamos um bocado. Tem notícias da galera? Nunca mais vi ninguém. Foi muito bom te encontrar por aqui. Olha, no sábado darei uma festa em minha casa. Vai rolar boa música. Chorinho. Você gosta? Me dá o teu celular. Vou te ligar e te passar o meu endereço. Gosto, sim. Vou aparecer. Obrigada pelo convite. Vá mesmo. E pode chamar quem você quiser, viu? Certo, mas acho que não levarei ninguém. Ah, desculpe, não tem quem te acompanhe? Está solteira ainda, moça? Você, hein, sempre exigente. Não é isso. Eu tenho companhia, mas ando só.

Lidiane Nunes.



Solitudinária


40 apartamentos ─ 40 galáxias.

Quase 200 pessoas ─ estrelas esgotadas.

Mais porteiros, visitantes e empregadas estressadas.

E a faxineira que vem toda quarta cantando “bororó, bororó”.

Todos moram comigo.

E eu moro só.

BARBOSA, Carlos. A segunda sombra. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010.


Foto 1: Mr. Badger

Foto 2 : Imapix