"O irônico é uma vampira que sugou o sangue de seu amante e o abanou com frescor, o embalou até dormir e o atormenta com sonhos turbulentos" (Soren Kierkegaard. In: The Concept of Irony).

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Carpe diem

aproveita o momento

quando os olhos falam uma língua 
que a língua não sabe
quando as mãos seguram o instante
como se fossem avaras de eternidade
quando os ouvidos apenas suportam
a música dos ansiados passos
e há um único aroma que se não repugna
quando o teu sorriso é o reflexo
do sorriso à tua frente
quando as estrelas são todas convocadas
para iluminar o rosto desejado
então é a hora o minuto o segundo
de fechar os olhos e ganhar asas

aproveita o momento

a vida só é curta quando não subimos
o estribo da carruagem que parte
quando ficamos a ver passar todos os comboios
a vida só é aventura quando se busca a ventura
que não tem pés para vir ter connosco
é preciso partir dar as mãos ao inédito
e assumir que quando caminhamos
nem todo o terreno é um pântano assustador
é preciso acreditar

aproveita o momento

porque outros momentos virão
em que nada pode acontecer
porque o tempo resvala inexorável
e o instante seguinte é muito tarde
e pelo menos tão desconhecido quanto este
porque os cabelos encanecem
e as mãos ficam murchas de esperança
e o peito qualquer dia é um assento de pedra
porque só agora é agora e logo o sol já se deitou
e amanhã já perdeste metade dos ensejos

aproveita o momento
e eterniza-o o mais que puderes
aproveita o momento
e dá-lhe as boas vindas
sorri-lhe manda-o entrar
e adormece no seu ombro.


MONTEIRO, Anthero. Carpe diem. In: Sete Vezes Sete Nuvens. Porto: Egoiste, 2010

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